A paixão por empreender pode ser contagiosa? Ou escolhemos nos conectar com quem sente o mesmo? Um estudo rigoroso revela os bastidores emocionais de startups em programas de aceleração.
A convivência entre empreendedores é um dos ingredientes mais valorizados por programas de aceleração de startups. Mas você já parou para pensar em como essa convivência molda o que sentimos pelo nosso próprio negócio? A pesquisa conduzida por Becker, Ebbers e Engel (2023), publicada no Journal of Business Venturing, oferece uma resposta científica a essa questão — e ela é surpreendente: sim, a paixão empreendedora pode se espalhar como uma faísca… mas só em certos contextos.
O que move os laços entre empreendedores: semelhança ou influência?
O estudo analisou quatro ondas de dados de uma aceleradora universitária na Europa. Usando um modelo estatístico avançado (SIENA), os autores conseguiram separar dois efeitos que geralmente se confundem:
- Seleção por semelhança (homofilia): empreendedores tendem a formar laços com outros que compartilham níveis semelhantes de paixão.
- Contágio social: a paixão empreendedora de um fundador pode influenciar diretamente seus pares, aumentando a motivação do grupo.
Os dados mostram que ambos os efeitos estão presentes, mas com pesos diferentes dependendo do tipo de paixão.
Paixão por fundar é socialmente contagiosa. Paixão por inventar, nem tanto.
A pesquisa diferencia duas dimensões da paixão empreendedora:
- Paixão por fundar (foco em construir e lançar um negócio).
- Paixão por inventar (foco na criação de produtos ou soluções inovadoras).
Os achados são claros:
- A paixão por fundar não só atrai pessoas com sentimentos semelhantes como também se espalha entre os membros da equipe, especialmente entre cofundadores.
- Já a paixão por inventar não apresentou efeito de contágio significativo — provavelmente porque é mais “silenciosa” e menos visível nas interações cotidianas.
O poder das conexões de equipe
Os vínculos entre cofundadores se mostraram o principal canal de contágio emocional. Se o seu cofundador tem um alto nível de paixão por fundar, suas chances de também aumentar esse sentimento mais que dobram. Em números:
- Um aumento de 0,724 unidades na paixão média dos colegas de equipe eleva em 106% as chances de aumento na sua própria paixão por fundar (exp(0.724) = 2.062).
Por outro lado, laços com empreendedores fora da equipe não geraram efeitos semelhantes — destacando o poder da convivência próxima no desenvolvimento emocional do fundador.
Quem se conecta com quem? A seleção por paixão
Além do contágio, o estudo mostra que empreendedores tendem a escolher se conectar com pares que compartilham níveis similares de paixão. Isso reforça a teoria da “homofilia”: buscamos naturalmente o semelhante — inclusive no entusiasmo pelo próprio negócio.
Ao decompor estatisticamente os efeitos, os autores identificaram que:
- O contágio social responde por cerca de 57% da semelhança de paixão observada.
- A seleção por homofilia representa 34% da semelhança emocional entre empreendedores.
Aceleradoras como ecossistemas emocionais
Esse estudo traz implicações práticas poderosas para investidores, gestores de programas e os próprios empreendedores:
- A paixão não é apenas um traço individual — ela é moldada pelas relações sociais, principalmente no ambiente intenso e colaborativo de uma aceleradora.
- Eventos informais e pitches públicos podem ser grandes oportunidades para amplificar o “efeito contágio” da paixão por fundar.
- A formação de times deve considerar não só competências técnicas, mas também o alinhamento emocional. Um fundador apaixonado pode inspirar, mas também pressionar obsessivamente os colegas.
O que podemos aprender com isso?
- Startups são redes emocionais, não apenas estruturas técnicas.
- Escolher cofundadores apaixonados pode acelerar não só o negócio, mas também o seu próprio entusiasmo.
- Programas de aceleração podem projetar experiências intencionalmente para ativar o contágio positivo.
- Paixão por inventar talvez precise de ambientes mais focados na criação técnica e coletiva — como incubadoras ou makerspaces.
Conclusão: rede para a paixão ou paixão para a rede?
O estudo nos mostra que a semelhança na paixão empreendedora não é fruto do acaso. Ela emerge de uma combinação entre com quem escolhemos nos conectar e quem nos influencia ao longo da jornada. Assim, ao desenhar times e programas de apoio, vale lembrar: o ambiente que criamos pode ser tão contagiante quanto a ideia que queremos lançar no mundo.
🔍 Acesse aqui o artigo original: Network to passion or passion to network?
Esse post foi escrito com ajuda de Inteligência Artificial.