Empreendedorismo Digital em Países em Desenvolvimento: Como Plataformas Digitais Estão Impulsionando Startups na Nigéria

Introdução: A força do digital além da infraestrutura

Em um cenário marcado por instabilidade econômica, políticas imprevisíveis e infraestrutura limitada, como é o caso de muitos países do Sul Global, o surgimento de startups digitais poderia parecer improvável. No entanto, plataformas digitais como Android, Flutter e Builder.ai estão se tornando aliadas poderosas na criação de negócios inovadores. Um estudo recente publicado na Digital Business (Ajah, 2025) revela como recursos de fronteira das plataformas digitais (DPBR) estão possibilitando o florescimento do empreendedorismo digital em ambientes de alta incerteza como o da Nigéria.


Abertura, Colaboração e Liberdade de Criação: O Poder das Plataformas

Google, Microsoft, Flutter e React Native foram citadas por empreendedores nigerianos como plataformas que oferecem liberdade de acesso, recursos abertos e oportunidades de co-criação. A lógica é simples: ao permitir que desenvolvedores colaborem em bibliotecas de código, criem funcionalidades específicas e compartilhem conhecimento, essas plataformas democratizam o processo de inovação.

“O acesso aberto à plataforma nos permite interagir com desenvolvedores que nem conhecemos, complementando nosso time com conhecimento valioso.” – Fundador CC

Além disso, ferramentas como Crashlytics, citada no estudo, permitem que os próprios desenvolvedores acompanhem bugs e melhorem a estabilidade de suas aplicações, acelerando o ciclo de desenvolvimento e lançamento.


Inteligência Coletiva e Desenvolvimento Ágil: O DNA da Inovação

O estudo mostra que as startups digitais da Nigéria não seguem o modelo tradicional de desenvolvimento isolado. Ao contrário, elas se apoiam em ciclos de inteligência coletiva. São equipes distribuídas, conectadas por plataformas, que co-criam soluções, compartilham bibliotecas e iteram rapidamente com protótipos e MVPs (Minimum Viable Products).

“Testamos nosso MVP nas App Stores para entender a mente dos usuários” – Fundador AA

Essa cultura de prototipagem contínua, baseada em feedback real do usuário, garante que o produto final esteja alinhado com o mercado, mesmo em contextos instáveis.


Adaptação e Resiliência: Empreender em Meio ao Caos

Apesar do apoio tecnológico, o ambiente na Nigéria é desafiador. Regras mudam, licenças são caras e políticas públicas nem sempre favorecem o empreendedorismo. Ainda assim, os fundadores demonstram resiliência estratégica, utilizando redes sociais, hubs de tecnologia e investidores estrangeiros para contornar as barreiras.

“Fundadores bem-sucedidos aqui são street-smart. Sabem o que funciona no mercado e são adaptáveis” – Fundador LL

Empreendedores também desenvolvem uma habilidade crucial: evitar investidores problemáticos. Investidores locais frequentemente impõem termos abusivos e exigem retornos rápidos, o que compromete a sustentabilidade dos negócios. Muitos optam por bootstrapping, crowdfunding e colaborações em hubs tecnológicos como alternativas mais saudáveis.


Hubs de Inovação: Oásis em Ambientes Hostis

Tech hubs desempenham um papel central no ecossistema. Eles oferecem infraestrutura, internet, energia, mentoria, programas de incubação e aceleradoras. Um exemplo citado é o Nigcomsat Accelerator, que prepara startups voltadas para soluções em agri-tech, ed-tech e space-tech.

“Sem o tech hub, não conseguiríamos nem ter acesso à infraestrutura básica” – Fundador AA

Com esses espaços, empreendedores podem focar na inovação sem os altos custos de operação que limitariam seus avanços.


Enabling Conditions: O que realmente ativa o empreendedorismo digital

O artigo identifica seis condições facilitadoras que ativam os mecanismos de inovação digital:

  1. Generatividade: capacidade de modificar e ampliar funcionalidades sem depender do controle da plataforma.
  2. Especificidade: foco na criação de aplicações altamente adaptadas ao público-alvo.
  3. Relacionalidade: redes de colaboração entre desenvolvedores.
  4. Modularização: desenvolvimento por partes, permitindo agilidade e independência.
  5. Loose Coupling: componentes autônomos que se conectam por interfaces padronizadas.
  6. Necessidades não atendidas: foco em problemas reais e urgentes que demandam soluções criativas.

Conclusão: Um modelo prático para empreender com impacto

A pesquisa de Ajah (2025) propõe um framework poderoso para entender o surgimento de startups digitais em contextos difíceis. Mais do que um modelo teórico, ele se torna um guia prático para quem deseja empreender em regiões com poucos recursos, mas com grandes oportunidades.

Ao alavancar as plataformas digitais, evitar armadilhas de investidores oportunistas e criar redes colaborativas, qualquer empreendedor pode criar soluções escaláveis com potencial global, mesmo a partir de Lagos, Nairóbi ou Pelotas.

Empreender em um país em desenvolvimento não é sobre sorte, é sobre estratégia, tecnologia e resiliência.


🔗 Acesse aqui o artigo original: Digital platform boundary resources and the emergence of digital start-ups in resource-constrained and uncertain contexts